News — 02 July, 2023
URBE Latam Encontro Internacional
Neste Fevereiro, a URBE Latam promoveu o encontro da sua equipe internacional em Niterói, no Rio de Janeiro. A ideia central era trazer a equipe dos diferentes países em conjunto para trocar experiências, adquirir novos conhecimentos e refletir sobre os próximos passos na utilização dos dados produzidos e no seguimento do mapeamento.
Como membro da Humanitarian OpenStreetMap Team, fui convidada para compor o grupo que se encontrou para agregar ao debate de possíveis projetos de mapeamento futuros em comunidades da região. Além de visitar a comunidade do Preventório, nós também pudemos conhecer os bancos comunitários de Maricá e de Niterói e estivemos na comunidade da Maré.
A URBE Latam é um projeto de pesquisa iniciado em 2019 que atua nas comunidades do Morro do Preventório, Niterói, Rio de Janeiro e em El Pacífico, em Medellín, na Colômbia. O objetivo principal é contribuir para a potencialização de ações de resiliência das pessoas e dos grupos comunitários, que frequentemente estão sujeitos a desastres ambientais e a muitas outras adversidades. O projeto é resultado da colaboração de núcleos de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade de Antioquia (UdeA), da Colômbia, e da Universidade de Glasgow, na Escócia.
Aqui no Brasil, no Morro do Preventório, uma das atividades centrais envolveu o mapeamento da comunidade. Até que o mapa base fosse traçado pela equipe no Tasking Manager, não havia qualquer mapeamento da região. A ideia após a produção do mapa base foi realizar uma pesquisa com a comunidade acerca dos riscos nos quais estão as casas e os moradores. Para isso, membros comunitários foram envolvidos tanto na atividade de mapeamento quanto através de um questionário realizado pela equipe da URBE Latam de porta em porta. É possível ler mais sobre o projeto aqui.
No primeiro dia que estivemos juntos, o grupo da URBE Latam convidou membros da comunidade para contar como o mapeamento foi desenvolvido e abriu para o debate sobre a utilidade desses dados e possibilidades futuras de aprofundamento do mapeio. Juntos, nós pudemos refletir sobre diferentes tópicos, como a reflexão acerca do que é “vulnerabilidade física”, possibilidade de desenvolver aplicativos que avisem os moradores sobre a condição da comunidade em caso de catástrofe ambiental como as fortes chuvas que vêm ocorrendo no Rio de Janeiro, conversas com políticos regionais nas quais os dados possam ser base para requisições e possibilidade de aprofundamento do detalhamento do mapeio de instituições como postos de saúde, escolas, centros comunitários… Outras iniciativas comunitárias maravilhosas foram discutidas nessa conversa, como o banco comunitário Banco do Preventório e o centro de cultura Maloca Cultural.
No segundo dia de encontros, fomos até a cidade de Maricá, bem próxima à Niterói. A ideia era, novamente, observar e conversar sobre iniciativas de desenvolvimento social. Maricá foi o exemplo em questão, já que lá há um grande envolvimento do governo em projetos sociais. Dentre nossas visitas, estivemos no Banco Mumbuca e na Codemar.
O terceiro dia foi o dia de conhecermos iniciativas da cidade de Niterói, que também mostraram bastante engajamento por parte do governo. Na cidade, visitamos o Banco Comunitário Araribóia, onde toda a reflexão acerca de moedas sociais e a importância do mapeamento aberto se encontram claramente. Enquanto discutimos sobre diferentes projetos de moedas comunitárias já pesquisados pelo grupo anteriormente, ficou claro o quanto possuir dados claros sobre a população, a quantidade e a condição das moradias e a infra-estrutura local são essenciais para desenvolver qualquer tipo de projeto de cunho social sustentável. Como o Professor Eduardo Diniz mencionou durante a conversa, “não adianta nada investir no desenvolvimento de uma comunidade, se no dia seguinte chover e alagar a comunidade toda”. Depois do banco, tivemos a honra de sermos recebidos pelo prefeito de Niterói Axl Grael, que nos contou sobre iniciativas sociais em comunidades niteroienses, sobre as quais pudemos falar sobre a importância do mapeamento aberto e a possibilidade de colaboração em treinamentos e produção de dados.
Por fim, na quinta feira visitamos a comunidade da Maré no Rio de Janeiro, onde fomos recebidos por representantes comunitários no centro comunitário da Redes da Maré. Lá, a equipe de mapeamento da URBE Latam mais uma vez apresentou o desenvolvimento do mapeamento realizado no Preventório e pudemos dialogar sobre possibilidades de mapeamento da Maré, a importância de desenvolver e disponibilizar esses dados, mas também a delicadeza com essas informações, que infelizmente podem ser usadas de forma a causar mais violência no local. Depois de uma troca muito rica com os representantes comunitários da Maré, pudemos fazer uma visita a alguns locais da comunidade, conhecendo, ainda, a Casa das Mulheres da Maré e o Centro de Artes da Maré.
O espaço de um post me parece muito breve para conseguir expressar com profundidade toda a troca, muito rica, que vivemos nessa semana. Pudemos nos conectar enquanto pessoas e profissionais que têm o compromisso de atuar em prol do desenvolvimento humanitário, comunitário e social e pudemos trocar e aprender muito, uns com os outros e com as comunidades e organizações com as quais dialogamos. Foram dias de muito aprendizado, mas acima de tudo, de muita força e esperança na certeza de que somos muitos e queremos trabalhar juntos e que há muito pela frente a ser feito! Sempre mantendo em mente algo que foi ressaltado pelo time da URBE Latam durante a conversa com a comunidade do Preventório sobre mapeamento, ainda no primeiro dia: quando mapeamos, mapeamos as vulnerabilidades. Mas também mapeamos as potencialidades da comunidade.