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News — 19 October, 2024

Recuperação da Infraestrutura Social em Porto Alegre: Mapeamento para a Resiliência

Após as enchentes de 2024 em Porto Alegre, Brasil, o BID e a HOT se uniram para mapear e avaliar a infraestrutura danificada. Utilizando dados georreferenciados e o envolvimento da comunidade, essa colaboração promove uma recuperação sustentável e resiliente para as populações mais vulneráveis da cidade.

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Em 27 de abril de 2024, após duas semanas de intensas chuvas no Rio Grande do Sul, o estado mais ao sul do Brasil, o colapso da barragem hidrelétrica 14 de Julho agravou a já crítica situação em Porto Alegre. Este desastre afetou mais de 160 mil pessoas, com cerca de 94 mil casas danificadas, aproximadamente 420 instalações públicas parcial ou completamente destruídas e mais de mil quilômetros de estradas públicas fora de operação. O aeroporto de Porto Alegre permanece fechado. O rio Guaíba atingiu níveis recordes, inundando o centro histórico da cidade. No entanto, este não foi um evento isolado: em setembro de 2023, um ciclone tirou a vida de pelo menos 30 pessoas no Rio Grande do Sul. As mudanças climáticas e o fenômeno El Niño intensificaram as condições meteorológicas extremas na região.

Antes das inundações, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Prefeitura de Porto Alegre já trabalhavam juntos para melhorar a qualidade e a resiliência da infraestrutura social, incluindo escolas, centros de saúde e serviços sociais. Em resposta aos novos desafios impostos pelo desastre, o BID se associou à Equipe Humanitarian OpenStreetMap (HOT), uma organização com ampla experiência em ação humanitária e desenvolvimento comunitário por meio de mapeamento aberto para a gestão de desastres. Neste novo contexto, o BID e a HOT propuseram apoiar a Prefeitura de Porto Alegre na coleta de dados geográficos de alta qualidade, preparando o caminho para uma rápida recuperação da infraestrutura social essencial.

Uma colaboração entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento e Humanitarian OpenStreetMap

À medida que a emergência deu lugar aos esforços de resposta e reconstrução, tornou-se crucial compreender o estado atual da infraestrutura educacional, de saúde e de serviços sociais, particularmente nas áreas mais vulneráveis da cidade. Nesse contexto, para avaliar com precisão a situação no terreno e oferecer apoio específico às autoridades, uma missão conjunta do BID e da HOT visitou Porto Alegre em junho passado.

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A missão, liderada conjuntamente pela equipe da Humanitarian OpenStreetMap e um grupo multidisciplinar do Setor Social do BID, concentrou-se em identificar e mapear edifícios que necessitavam de avaliação de danos, revisar dados existentes e avaliações anteriores, e abordar lacunas críticas de informação para apoiar uma avaliação georreferenciada das instalações públicas. Para facilitar a tomada de decisões em tempo hábil, foi criada uma ferramenta de pesquisa online que permitiu coletar dados precisos, comparáveis e georreferenciados de maneira eficiente. Este trabalho foi realizado em estreita colaboração com a Secretaria de Planejamento e Assuntos Estratégicos de Porto Alegre, juntamente com representantes das Secretarias de Educação, Saúde, Assistência Social e Esportes.

A tomada de decisões antecipada é essencial para a recuperação da infraestrutura social. Por isso, os esforços se concentraram em desenvolver uma ferramenta de pesquisa online destinada a capturar diversas necessidades e perspectivas, apoiando a coleta sistemática de dados. As visitas de campo a clínicas, escolas e espaços esportivos em áreas gravemente afetadas, como Sarandi e o Centro Histórico, permitiram validar a ferramenta de diagnóstico, capacitar funcionários locais na coleta precisa de dados e reunir documentação em áudio e vídeo. Essas visitas proporcionaram uma visão direta dos graves impactos das inundações prolongadas, revelando danos estruturais extensos e condições insalubres nas instalações afetadas.

Este vídeo em 360° oferece uma visão interna da Escola Municipal de Educação Infantil Ilha da Pintada, com foco no estado atual das salas de aula após a emergência. Acompanhados por militares vindos do Rio de Janeiro para oferecer apoio, exploramos como a comunidade escolar está se adaptando e respondendo às circunstâncias atuais.

A equipe da HOT destacou a importância de desenvolver metodologias que utilizem tecnologias de código aberto, integrando-se perfeitamente aos sistemas do governo local para fornecer soluções de dados adaptáveis e orientadas para a comunidade. Essas ferramentas geram fontes alternativas de dados, apoiando um processo de recuperação mais eficiente e resiliente. Segundo a equipe: “Conseguimos mapear instalações no OpenStreetMap e coletar dados cartográficos, utilizando ferramentas como o Mapillary para fornecer imagens georreferenciadas que documentam o estado da infraestrutura”.

No Mapillary, você pode revisar o visualizador de 12.216 imagens capturadas em campo pela equipe da HOT.

Como resultado, foram coletadas e organizadas sistematicamente informações detalhadas sobre as instalações de infraestrutura social afetadas pelas inundações. Combinados com dados geoespaciais, esses insights ofereceram uma visão aprofundada das características das instalações, a extensão e a natureza dos danos, áreas prioritárias com base na gravidade, custos estimados e o progresso das avaliações técnicas e planos de recuperação. Esses dados abrangentes foram sistematizados por meio de ferramentas de inteligência de negócios (BI), garantindo que pudessem ser facilmente adotados e utilizados pelas equipes locais.

Dos dados à ação

As informações coletadas durante a missão foram cruciais para redefinir o programa do BID com Porto Alegre. Graças aos dados georreferenciados dos edifícios sociais afetados e às avaliações do desastre, foi possível um planejamento efetivo, direcionando recursos para onde eram mais necessários.

Os esforços colaborativos com as equipes técnicas da Prefeitura foram essenciais para reformular o programa, priorizando o enfrentamento das consequências das inundações e o fortalecimento da capacidade de resposta dos serviços sociais.

No novo programa, o foco está na reabilitação e melhoria dos serviços sociais por meio de investimentos em atualizações de infraestrutura, equipamentos e serviços sociais em vários setores. Todas as construções, sejam novas ou renovadas, incorporarão critérios de sustentabilidade ambiental e resiliência climática, juntamente com medidas de eficiência energética, uso responsável da água, seleção adequada de materiais e instalação de sistemas fotovoltaicos.

  • Rede de Saúde: 36 reabilitações e construções, juntamente com a provisão de equipamentos para edifícios da rede de saúde. Programas de saúde mental direcionados a mulheres afetadas pelas inundações, especialmente mães ou chefes de família, que incluirão sessões de terapia e grupos de apoio para equilibrar demandas profissionais e pessoais.

  • Rede de Proteção Social: 23 reabilitações e construções de centros de proteção social. Programas para 6 mil pessoas em extrema pobreza e apoio a pessoas em situação de rua. Construção de um abrigo para futuras emergências.

  • Rede de Desenvolvimento Social: Construção de habitações para idosos cujas casas foram mais afetadas pelas inundações e reabilitação de 3 espaços comunitários e esportivos. Programas de capacitação para 6.500 jovens e adultos afetados pelas inundações e em situação de maior vulnerabilidade social em setores de alta demanda no mercado de trabalho.

De forma indireta, mais de 1 milhão de cidadãos adultos se beneficiarão ao acessar melhores serviços por meio da plataforma de identificação digital, e aproximadamente 44 mil pessoas vulneráveis receberão atendimento mais específico e completo graças à melhor coordenação e interoperabilidade dos sistemas de informação. Além disso, cerca de 133 mil pessoas experimentarão melhores serviços de saúde e proteção social devido à otimização das redes de atenção.

Próximos passos na colaboração

Com base na parceria inicial focada em diagnósticos, os próximos passos se concentrarão no desenvolvimento de um plano de monitoramento para a execução de projetos de construção no novo programa.

Implementaremos uma estratégia colaborativa para supervisionar a recuperação de equipamentos, que incluirá o lançamento de uma campanha de monitoramento cartográfico participativo em breve. Nosso objetivo é envolver estudantes, líderes comunitários e Youth Mappers nessa iniciativa. Ao incluir esses grupos, buscamos fomentar a participação comunitária e garantir que nossa abordagem seja inclusiva e sustentável.

Por fim, esta aliança tem como objetivo integrar e fortalecer os esforços de dados e organização para apoiar efetivamente a população durante este momento desafiador. Essa experiência destaca a importância da colaboração entre a comunidade OSM, a HOT e o BID, demonstrando como respostas coordenadas na recuperação de desastres podem aproveitar dados e tecnologia para gerar um impacto duradouro na comunidade.