News — 12 February, 2024
Mapeamentos Amazônicos para uma Amazônia Inclusiva e Sustentável
Explore a iniciativa Mapeamentos Amazônicos, um projeto do Hub de Mapeamento Aberto focado na América Latina, que destaca a importância do mapeamento de impacto social na região amazônica. Descubra projetos-chave na Colômbia, Equador, Brasil e Peru para fortalecer a prevenção, gestão de emergências, manejo florestal sustentável e resiliência comunitária.
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Poucas coisas representam tão iconicamente uma região quanto a Amazônia: oito países compartilham a responsabilidade de cuidar de uma área que abriga 20% das reservas de água doce do mundo. A diversidade, riqueza e potencial de desenvolvimento desta região são fontes de esperança para as comunidades que lá vivem, mas também trazem consigo conflitos e desafios comuns à região e ao mundo. Aqui nos deparamos com situações que colocam em risco a biodiversidade, a subsistência e a segurança das comunidades locais. O desmatamento, as mudanças climáticas e as pressões econômicas têm gerado um panorama complexo que exige compreensão e ação.
Floresta Amazônica no Rio Urubu, Estado do Amazonas, Brasil. Sob licença Creative Commons Attribution 2.0 Generic.
É crucial reconhecer que a preservação, restauração e sustentabilidade da região amazônica não são apenas vitais para a América Latina, mas também representam um desafio crítico em escala global na luta contra as mudanças climáticas. A Amazônia é o lar de comunidades cuja sobrevivência está intimamente ligada à floresta tropical. A floresta é um ecossistema integrado e os seres humanos fazem parte dele, podendo sua atividade contribuir para o desenvolvimento sustentável do mundo ou para sua destruição.
Nesse contexto, a iniciativa de mapeamento de impacto social “Mapeamentos Amazônicos” do Hub de Mapeamento Aberto da América Latina e do Caribe busca mapear os elementos construídos, os usos da terra e as condições críticas do meio ambiente no banco de dados cartográficos abertos e livres OpenStreetMap (OSM), permitindo que atores locais e especialistas utilizem essas informações para entender os riscos e impactos e implementem ações organizadas em seus territórios.
Os mapas estão vivos, assim como os territórios da selva e sua população. Como exemplo, as comunidades que habitam às margens do Rio Solimões mudam-se sistematicamente devido ao seu estilo de vida, à erosão do solo e às ameaças potenciais de invasores de terras. Essas comunidades enfrentam situações difíceis que requerem a assistência da Defesa Civil, entre outros atores, e que dependem de informações geográficas precisas.
Para enfrentar o “vazio cartográfico”, especialmente no que diz respeito à distribuição dessas populações e às ameaças que enfrentam, estamos trabalhando. Por isso, a iniciativa promoverá a troca de conhecimentos e capacitação técnica em mapeamento e uso de dados espaciais entre comunidades e diversos atores comprometidos com a preservação e sustentabilidade da Amazônia. Um mapeamento detalhado e abrangente da região permitirá ampliar a visibilidade e facilitar o acesso a todas as informações para o setor defensor da Amazônia.
No âmbito do Dia Internacional da Amazônia, em 12 de fevereiro, 2024, nós lançamos a iniciativa “Mapeamentos Amazônicos”, que tem como objetivo fechar a lacuna cartográfica na região, promovendo o uso do mapeamento para o impacto social em prol da região. Esta iniciativa começou naquele dia simbólico, mas seu foco está voltado para o longo prazo. Iniciamos com projetos focalizados nas necessidades identificadas das comunidades e governos, como ponto de partida para continuar mapeando toda a região.
Conheça nossos Mapeamentos Amazônicos
Monitoramento de risco de inundação em Tefé
Tefé é uma das últimas cidades habitadas nas fronteiras da Amazônia brasileira. O município não é acessível por terra, e aos desafios de acesso somam-se outros, como a extrema pobreza, a exclusão dos serviços públicos de parte de sua população indígena e os desafios impostos pelo impacto das mudanças climáticas. Grande parte da comunidade que vive nos arredores de Tefé não está representada nos mapas, e, portanto, as autoridades não conseguem alcançá-la. Além disso, a erosão causada pelo desmatamento é um problema crítico que requer monitoramento constante.
Em nosso trabalho em Tefé (ainda em andamento), estamos explorando três formas de colaboração com a comunidade desta região: capacitação para inclusão, inovação e uso de mapas pelas autoridades locais.
Por um lado, estamos capacitando estudantes de três comunidades, Alvarães, Nogueira e São Luís de Macarí, para desenvolver projetos específicos utilizando nosso sistema de Tasking Manager e dados de imagens de drones. Isso foi feito em colaboração com a Universidade Federal de São João del-Rei, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Defesa Civil de Tefé, que receberam treinamento remoto de representantes do Canoa de Tolda, outro de nossos projetos no Brasil. Durante 10 dias de atividades de campo em novembro de 2023, foram coletados e processados dados específicos utilizando drones em comunidades não representadas nos mapas oficiais.
A comunidade de Tefé adaptou manuais e diretrizes ao seu contexto local, utilizando conhecimentos prévios de projetos semelhantes implementados em 2022. Por fim, a comunidade, por meio do projeto, é responsável por monitorar as dinâmicas nas comunidades mapeadas e avaliar a possibilidade de replicar o processo em outras áreas, como no Médio Solimões, o que contribuirá significativamente para a representação de dados cartográficos e acesso na região de Tefé. Estamos trabalhando para expandir essas capacitações, o que permitirá ampliar nosso trabalho na região e alcançar mais territórios e população.
Por outro lado, as equipes da Universidade Federal de São João del-Rei e da UEA desenvolveram tecnologia que permite obter informações geográficas de alta qualidade, utilizando sistemas que não dependem de conexão com a internet e drones. Essas informações podem ser então incorporadas ao OpenStreetMap e, consequentemente, melhorar a qualidade dos mapas globalmente.
Mapeamento Colaborativo e Inclusivo no Médio Solimões
Unindo esforços, pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei, do Centro de Estudos Superiores de Tefé e do Hub de América Latina e Caribe da HOT estão trabalhando para completar os mapas da região amazônica por meio do uso da plataforma OpenStreetMap (OSM) e da capacitação das comunidades locais em tecnologias acessíveis para monitorar as mudanças climáticas.
Nossa estratégia inclui seminários, oficinas, coleta de dados de campo e voos com drones, tudo voltado para capturar imagens de alta resolução e coletar dados para melhorar a representação do Médio Solimões nos mapas.
Destacamos o compromisso local e a colaboração como pilares fundamentais para enfrentar os desafios cartográficos na Amazônia brasileira. Além de preencher as lacunas nos mapas, buscamos fortalecer as comunidades locais, preservar a diversidade cultural e ambiental e contribuir para o desenvolvimento sustentável na região. Nosso enfoque envolve o processamento e análise dos dados coletados, a atualização do OSM e a disseminação dos resultados para inspirar iniciativas semelhantes em outras regiões da Amazônia e globalmente.
Formação de educadores indígenas em mapeamento aberto, Pucallpa, Peru
A questão ambiental é de grande importância na região e principalmente para as comunidades indígenas, que veem seus territórios ancestrais ameaçados pelo desmatamento em decorrência da exploração madeireira ilegal e também pela poluição de diversas fontes que torna os rios e lagoas que os abastecem de água e comida insalubre.
Em Pucallpa, no Peru, estamos lançando as bases para um grupo de educadores locais de comunidades indígenas. Este grupo, em colaboração com a Universidade Nacional Intercultural da Amazônia (UNIA) e organizações locais que trabalham pela preservação da floresta amazônica e pela economia sustentável das comunidades florestais, apoiará o monitoramento ambiental a partir do mapeamento comunitário.
Mapeamento como ferramenta de gestão de riscos na Amazônia equatoriana
Grande parte da infraestrutura social e económica da Amazónia Equatoriana – que consiste numa área aproximada de 120.000 km2, 956.000 habitantes e representa quase metade da superfície do Equador – é invisível no mapa OSM e poucos dados sobre esta região estão disponíveis na cartografia oficial.
Nossa iniciativa na Amazônia equatoriana, com o apoio do OpenLabEc, treina comunidades no mapeamento de risco de desastres usando OSM e Mapillary. Desta forma, fortaleceremos os esforços de gestão de riscos em cidades amazônicas como Nueva Loja, Tena, Puyo e Macas, através da criação de novas comunidades de mapeadores em colaboração com secretarias locais de gestão de riscos e organizações da sociedade civil.
Avançando nossas parcerias com a Proteção Civil
Na América Latina, contamos com uma variedade de redes e atores dedicados à gestão de riscos. Nosso objetivo é consolidar nossa posição como um ator confiável na melhoria da informação para a gestão de riscos e desastres em toda a região e um mapeamento progressivo das áreas vulneráveis, preenchendo as lacunas na cartografia oficial disponível. Essas informações serão essenciais para essas organizações e seu uso é parte de nossos objetivos centrais.
Nesse sentido, estamos interessados em fortalecer nossas relações com aliados locais e as direções municipais de Defesa Civil, como fizemos em nossos projetos em Tefé, Brasil. Além disso, buscamos estabelecer vínculos com as autoridades de proteção civil e gestão de riscos de desastres em nível nacional em projetos que abordam uma perspectiva regional da Amazônia, tanto no Equador, Brasil e Colômbia, quanto em outros projetos no México.
Este é um esforço contínuo e sistemático que nos permitirá oferecer respostas mais eficazes, antecipatórias e com visão comunitária aos desafios apresentados pela gestão de riscos na América Latina. Não adotamos uma estratégia pontual, mas estabelecemos conexões em toda a região de forma individual e sistemática. Estamos comprometidos em trabalhar juntos para garantir a segurança e o bem-estar de nossas comunidades em toda a região.
Mapeamentos antecipatórios de áreas de risco na Amazônia
Em articulação com as autoridades responsáveis pela gestão de riscos no Equador, Colômbia e Brasil, identificamos as áreas mais vulneráveis no primeiro trimestre de 2024 para esses países, muitas das quais estão relacionadas a secas extremas causadas pelo fenômeno El Niño em áreas florestais. Por isso, lançamos projetos de mapeamento no Tasking Manager da HOT.
No âmbito do Dia Internacional da Amazônia, em 11 de fevereiro de 2024, convidamos a comunidade de mapeadores em geral a participar desses projetos explorando os que estão publicados no Tasking Manager com a tag #mapeo_amazonico. É um chamado à ação para contribuir nesses projetos que são vitais para a preparação para os riscos.
Junte-se a nós por uma Amazônia resiliente e inclusiva! Sua contribuição é crucial para nos prepararmos para os desafios enfrentados por esta região inestimável.
Campanha Tasking Manager: Mapeos Amazónicos
Projetos Brasil:
Projetos Colômbia:
Projetos Equador:
Nossa estratégia para os próximos dois anos consiste em priorizar o mapeamento das áreas e comunidades mais vulneráveis, avançando progressivamente até completar um mapa abrangente da região. Este mapa será uma ferramenta poderosa para todas as comunidades e tomadores de decisão, fornecendo informações detalhadas que permitirão um melhor planejamento e resposta a situações de risco.
Além dos mapeamentos detalhados de áreas povoadas no Tasking Manager, abrimos uma série de projetos em aplicativos móveis como o MapSwipe. Esses projetos envolvem grandes comunidades de mapeadores para monitorar a selva e as intervenções que podem ser observadas, como áreas desmatadas, cultivadas ou exploradas de qualquer forma.
Convidamos qualquer pessoa que queira contribuir mapeando em seu celular nos momentos livres a instalar o aplicativo MapSwipe e buscar lá os projetos amazônicos.
Projetos Comunitários em Desenvolvimento
Além do mapeamento remoto da Amazônia realizado pelas comunidades globais de OSM em colaboração com outras organizações, estamos conduzindo vários projetos comunitários com aliados locais.
Nosso objetivo é ensinar o uso da cartografia a comunidades rurais e indígenas da Amazônia, bem como a grupos universitários e à sociedade civil de cidades amazônicas. Trabalharemos com esses grupos para construir mapas adaptados às suas necessidades de gestão territorial.
Em 2024, a HOT desenvolverá uma concessão em colaboração com as Meninas da GEO, um grupo de mulheres mapeadoras do Instituto Federal do Pará (IFPA) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). O objetivo será mapear a região quilombola de Moju junto com o Projeto Perpetuar. As comunidades locais expressaram a necessidade de mapas que reflitam seus interesses e necessidades, como mitigar os impactos de dois grandes projetos desenvolvidos por organizações privadas, o racismo ambiental e a crise climática vivenciada em seus territórios.
Se sua organização faz parte deste setor ou é uma organização comunitária na Amazônia que trabalha em questões de gestão territorial, entre em contato conosco!
Nossa visão de longo prazo
Este é o início de nosso trabalho sistemático na Amazônia, baseado na premissa de que as comunidades podem usar dados geográficos para melhorar suas condições de vida, preservar seu ambiente e proteger seus direitos. Para acessar esses dados, as comunidades precisam ter as capacidades adequadas, inovar na forma como utilizam ferramentas concebidas para outros contextos e usar de forma sustentável essas ferramentas. O OSM, um verdadeiro bem público digital, pode ser usado para esses fins.
Buscamos desenvolver metodologias flexíveis para permitir que as populações desta região, diversa, rica e marcada pela desigualdade, conheçam seu próprio território e usem essas informações para viver de forma resistente e sustentável nele. É um trabalho de longo prazo, em uma região complexa, e não faremos isso sozinhos. Acreditamos e buscamos a cooperação de todas as organizações públicas, privadas e internacionais que acreditam no poder dos dados abertos para contribuir para a proteção e desenvolvimento de uma das áreas mais emblemáticas e importantes de nossa região.