News — 26 March, 2024
Coordenação e Ação: A Articulação da Resposta de Mapeamento Humanitário após o Furacão Otis
Após o furacão Otis em outubro de 2023, o Hub LAC liderou um mapeamento digital humanitário em Acapulco, identificando estruturas danificadas e necessidades prioritárias em colaboração com a comunidade nacional e organizações internacionais, destacando a importância da cartografia participativa e estabelecendo bases para futuras ações de mitigação por meio da colaboração interinstitucional na construção de resiliência comunitária.
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Em 25 de outubro de 2023, o furacão Otis atingiu a costa de Acapulco, Guerrero (México), com ventos sustentados de até 315 km/h, marcando um marco como o ciclone mais poderoso registrado na história da costa do Pacífico mexicano. O impacto foi devastador: linhas elétricas derrubadas, sensores sísmicos desativados, árvores arrancadas pela raiz, inundações e deslizamentos de terra. Milhares de lares e negócios foram reduzidos a escombros, com um saldo oficial de 50 mortos e 30 desaparecidos, além de centenas de pessoas desabrigadas.¹
Fase de Ativação Inicial
Diante dessa situação, a comunidade internacional de mapeamento mobilizou-se rapidamente para oferecer ajuda e apoio. A partir do Hub de Mapeamento Aberto na América Latina e no Caribe (Hub LAC), uma série de ações foi implementada para coordenar a resposta e auxiliar as autoridades locais na reconstrução de Acapulco.
A primeira fase da ativação envolveu estabelecer contato com as autoridades pertinentes, como a Proteção Civil e o Centro Nacional de Prevenção de Desastres (CENAPRED). No entanto, a desorganização e a interrupção do sinal telefônico e de energia causadas pelo desastre dificultaram inicialmente essa conexão, especialmente com as instituições locais. Foi necessário recorrer a contatos universitários da Universidade Autônoma do Estado do México (UAEMEX) e organizações internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para obter informações cruciais sobre a extensão dos danos e as necessidades prioritárias, além de começar a coordenar com as autoridades de um contato para outro.
Na espera da obtenção de imagens de drones sobre Acapulco, uma ativação preliminar foi iniciada para mapear as áreas circundantes na área de impacto estimada fornecida pelas análises iniciais do Disaster Charter-Copernicus. Isso permitiu antecipar as necessidades de reconstrução em áreas provavelmente menos atendidas e economicamente mais marginalizadas, além de acompanhar as solicitações específicas de assistência do CENAPRED em localidades específicas.
Esta estratégia teve como objetivo otimizar os recursos de mapeamento e evitar a duplicação de esforços em áreas urbanas densamente povoadas, antes de disponibilizar uma análise mais detalhada.
Mapeamento e Planejamento
Nas semanas seguintes ao desastre, foram obtidas imagens de drones sobre algumas áreas urbanas de Acapulco, fornecidas por diferentes entidades como Help.NGO e CENAPRED. Fomos responsáveis por orientá-los a carregar essas imagens para o OpenAerialMap e integrá-las ao Tasking Manager, com o objetivo de mapear especificamente os edifícios destruídos. Foram criados 17 projetos para essas áreas, o que possibilitou mapear um total de 22.537 estruturas.
Consulte o mapa de edifícios danificados na API do Overpass usando este link.
Esse mapeamento específico concentrou-se nas ações iniciais de recuperação, o que permitiu comparar as análises estimadas iniciais com a quantidade exata de edifícios danificados, tanto residenciais quanto de equipamentos, para sua atenção direta.
Simultaneamente, estabelecemos uma estreita colaboração com atores locais, universidades (UAM, UAEMEX, UACJ, UAGto, UAGRO e a Rede RENEG) e organizações da sociedade civil para impulsionar o mapeamento de equipamentos públicos-chave, como escolas, centros de saúde e mercados. Neste blog da YouthMappers, destaca-se a participação fundamental da juventude nessas atividades de mapeamento.
Este esforço conjunto, que envolveu a comunidade global da OSM, e a liderança proativa de 17 pessoas de cinco universidades mexicanas, nos permitiu cartografar:
Ao cruzar esses equipamentos localizados de forma precisa com as estruturas danificadas, pudemos orientar a ação de recuperação, especialmente em mercados públicos e escolas, para ações subsequentes de apoio à população.
Desafios e Evolução
O maior desafio foi, sem dúvida, a desarticulação dos atores de apoio, sejam eles governamentais, do setor privado ou ONGs, levando a uma grande quantidade de organismos realizando ações parciais, descoordenadas e, por vezes, duplicando esforços ou limitando o alcance de muitas iniciativas. Com o passar das semanas, começaram a surgir esforços de coordenação da sociedade civil, levando à formação de mesas intersectoriais junto ao Centro Mexicano para a Filantropia (CEMEFI) e ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para a reconstrução de Acapulco. O Hub continua participando desses espaços para lidar com as necessidades de dados que surgem e continuarão surgindo durante o longo período de recuperação social, econômica e ambiental de Guerrero.
Quanto ao acesso a dados e imagens de satélite abertas após desastres, que são insumos fundamentais para realizar um mapeamento de emergência eficaz, a falta de coordenação foi uma séria limitação. A experiência em Acapulco e o desejo do Hub de apoiar uma resposta digital abrangente a emergências agora nos levam a buscar colaborações com atores globais que realizam análises precoces, como o Disaster Charter.
Na resposta cartográfica à emergência, à medida que a fase de reconstrução avançava, as necessidades de dados evoluíram e surgiram desafios adicionais, como logística para atividades de limpeza de escombros e estimativa da população afetada. Para lidar com essas demandas, desenvolvemos formulários específicos no Kobo Toolbox e capacitamos o pessoal da Proteção Civil remotamente para seu uso. Também realizamos diversas análises geoespaciais para avaliar o impacto do desastre na população e na infraestrutura crítica. Além disso, formamos um grupo de voluntários geógrafos e geoinformáticos do país para fornecer apoio na organização cartográfica e no mapeamento de equipamentos e edifícios danificados.
Os participantes foram convidados e motivados com acompanhamento diário para mapear tanto os equipamentos quanto os edifícios danificados, o que representou duas a três semanas de trabalho. Através desta ativação, surgiram duas iniciativas: a Brigada de Mapeamento Humanitário e o Laboratório de Mapeamento Humanitário.
A Brigada de Mapeamento Humanitário, composta por 31 especialistas em mapeamento de 14 países da América Latina e do Caribe, contribuirá para projetos específicos e durante emergências. Não apenas se concentra em tarefas de mapeamento de alta qualidade, mas também em validar e fornecer treinamento. Este time desempenhará um papel fundamental em fortalecer a capacidade local, promovendo uma cultura enraizada de mapeamento humanitário na região e estabelecendo uma base sólida para o contínuo desenvolvimento da cartografia humanitária e aberta.
Por outro lado, o Laboratório de Mapeamento Humanitário é um espaço que promove a colaboração entre pessoas de diversas disciplinas e níveis básicos de experiência em mapeamento. Este laboratório incentiva a participação e o aprendizado no Hub de Mapeamento Aberto de forma voluntária, com o objetivo de consolidar uma comunidade para futuras respostas digitais a emergências. Nesse sentido, fazemos um apelo às instituições universitárias para se unirem à formalização do Laboratório, promovendo a colaboração entre departamentos e níveis de experiência.
Reconstrução de Acapulco
Paralelamente, participamos de reuniões semanais centradas no grupo intersectorial de reconstrução. Nessas reuniões, são destacadas múltiplas necessidades para reconstruir Acapulco de forma sustentável, participativa e considerando suas vulnerabilidades exacerbadas. Propusemos ações concretas a representantes da sociedade civil, funcionários e agências internacionais, como o monitoramento da vegetação e cultivos, de elementos que podem desencadear riscos de incêndio, e reflexões sobre o monitoramento das condições subaquáticas da baía.
Durante o Retiro Estratégico por Acapulco-Coyuca e Guerrero, onde representantes da sociedade civil, funcionários federais, estaduais e municipais, bem como agências internacionais, se reuniram para dar continuidade à resposta ao Furacão Otis e discutir a reconstrução, alguns pontos-chave foram destacados:
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A reconstrução de Acapulco deve ser abordada de forma participativa e inclusiva, especialmente devido às suas vulnerabilidades exacerbadas.
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O desastre revelou uma ampla gama de necessidades em termos ambientais, econômicos, sociais, culturais e políticos.
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É enfatizada a importância da coordenação entre diversas partes interessadas para alcançar uma reconstrução eficaz.
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São discutidos temas como a reconstrução do tecido social, a segurança alimentar, o papel das mulheres e a responsabilidade social das empresas.
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É enfatizada a importância da participação cidadã e da articulação entre diferentes níveis de governo e sociedade civil.
O processo de reconstrução em Acapulco é visto como uma oportunidade para abordar as vulnerabilidades estruturais e promover a participação comunitária na construção de um futuro mais resiliente e inclusivo. O trabalho de mapeamento humanitário não se concentrou apenas na resposta imediata ao desastre, mas também estabeleceu as bases para futuras ações de mitigação e preparação. A formação de uma rede de voluntários geógrafos e geoinformáticos, juntamente com a colaboração interinstitucional, destaca o potencial da cartografia participativa como uma ferramenta fundamental na gestão de crises e na construção de resiliência comunitária.
Agradecemos e reconhecemos todas as organizações e instituições participantes nesta ativação, cujo esforço conjunto tem sido fundamental para a reconstrução de Acapulco.
Comunidades, Organizações e Instituições Participantes
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Mapeamento de equipamentos e análise de dados: 17 pessoas de 5 universidades do México (Universidade Autônoma Metropolitana Unidade Cuajimalpa, Universidade Autônoma do Estado do México, Universidade de Guanajuato, Universidade Autônoma de Ciudad Juárez (UACJ); Universidade Autônoma de Guerrero)
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Mapeamento e análise de dados: coordenação por 3 professores e 1 doutorando da UACJ, UAEMEX, UAGRO
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Grupo interinstitucional para a reconstrução de Acapulco: 45 pessoas: Protección Civil Guerrero; CENAPRED; Disaster Relief-Crisis Ready Harvard; CEMEFI; UNICEF México; Reforestamos México; CONABIO; UAEMEX; PNUD México; HELP-NGO, entre outros
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Comunidade OpenStreetMap Global
Fontes
¹ Santos, A. (2023). La cifra oficial de víctimas por el huracán ‘Otis’ en Acapulco asciende a 50 muertos y 30 desaparecidos. El País.