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News — 30 August, 2022

Canoa de Tolda: Mapeamento para visualizar a dinâmica social do Rio São Francisco

Conheça os primeiros resultados da parceria da HOT com a Canoa de Tolda para tornar visível a dinâmica social do Rio São Francisco por meio de mapeamento aberto e uso de drones e outras tecnologias.

O que é a Canoa de Tolda?

Canoa de Tolda é uma organização brasileira criada em 1998, que atualmente atua no trecho baixo do Río São Francisco, nos estados de Alagoas e Sergipe, coletando informações sobre questões sociais, culturais, científicas e ambientais na região impactada pela barragem de Sobradinho.

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Parceria com a HOT

Desde novembro de 2021, em parceria com a HOT, a Canoa de Tolda vem desenvolvendo tarefas de mapeamento colaborativo utilizando ferramentas abertas, com o objetivo de produzir dados para monitoramento das condições hidrológicas e ambientais inexistentes nos mapas oficiais, a fim de capacitar a sociedade civil no gerenciamento de dados abertos e melhorar os planos de redução de risco de desastres liderados pela comunidade.

Marina Aragão, coordenadora da HOT para o projeto, acredita que a iniciativa da parceria “tem sido uma interação única entre as relações internacionais, a tecnologia global e acessível e o empoderamento das populações locais, e representou uma oportunidade pioneira e desafiadora, especialmente considerando a análise de um rio que tem uma enorme representatividade para o Nordeste e para o Brasil”. (Fonte).

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Progresso até o momento

Entre os dias 27 de junho e 8 de julho de 2022, a HOT treinou a equipe de Canoa de Tolda enviando uma equipe de especialistas e apoiando a aquisição de materiais e equipamentos para o desenvolvimento das diferentes atividades da organização: monitoramento de enchentes, modelagem 3D com drones e mapeamento de comunidades. Isso foi feito no povoado da Ilha do Ferro, levando em consideração que esta possui uma população considerável em situação de risco. Futuramente, Canoa poderá reproduzir o processo em outras partes do rio.

Como explica Carlos Eduardo Ribeiro Jr, de Canoa de Tolda, um dos criadores do MapSãoFrancisco, ADI – Ilha do Ferro, “não tão extensa e próxima da base, permite a aplicação das técnicas transmitidas [ao time] às variadas situações da planície de inundação: aglomeração urbana, lagoas marginais ocupadas e não ocupadas, dois canais fluviais. Essa variedade de casos permitirá treinamento e aprimoramento nossa capacidade para a evolução do projeto ao longo do Baixo São Francisco”. (Fonte).

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Atividades

  • Preparação de equipamentos adquiridos através da parceria com a HOT (drones, baterias, fishfinders).

  • Navegação pelo rio em lanchas para a medição de profundidade e vazão em áreas-chave; testes de batimetria fluvial.

  • Medição com GPS de pontos do terreno em áreas altas e secas próximas ao rio e instalação de pontos de controle em terra em pontos estratégicos.

  • Instalação de uma base para o GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite) na parte mais alta da cidade e construção de uma base de espuma de poliestireno para navegação da sonda de pesca e do GPS no rio.

  • Voos e fotos aéreas usando drones.

  • Encontros comunitários para ouvir a percepção da gestão fluvial e alternativas de divulgação do trabalho realizado.

  • Reuniões de capacitação da comunidade na gestão dos equipamentos adquiridos, softwares e aplicativos.

  • Consultas com a universidade.

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“Tivemos uma situação logo no início das atividades que exigia uma solução rápida: como usar o sonar para acompanhar o treinamento, não só naqueles dias, mas também nas próximas atividades de batimetria. […] Foi então que decidimos construir um pequeno trimarã não motorizado - feito de espuma - que receberia o equipamento de varredura necessário. O trimarã seria rebocado por uma das lanchas que realizam as atividades, o que não é novidade, já que inúmeros sistemas de prospecção aquática utilizam pequenas embarcações semelhantes”, explica Carlos Eduardo. Construído coletivamente pelos participantes das atividades em poucas horas, o trimarã demonstrou, na água, que sua associação com o equipamento proposto estava correta: a qualidade dos dados obtidos foi extremamente favorável, de grande precisão, todos obtidos em um curto espaço de tempo. (Fonte).

Segundo Ivan Gayton, Assessor Humanitário da HOT e um dos coordenadores da cooperação com o MapSãoFrancisco: “Canoa de Tolda trouxe uma grande novidade para a mesa; Antes deste projeto, nossos levantamentos batimétricos foram realizados com um receptor GNSS montado em uma baliza por um topógrafo dentro do rio com vestimentas à prova d’água. Isso estava fora de questão para um rio do tamanho do São Francisco, e para tal a equipe selecionou uma unidade de sonar de consumo (um localizador de peixes!) para medir a profundidade, com a intenção de manter essa unidade na água a partir de um pequeno barco. No entanto, Canoa de Tolda construiu um pequeno trimarã de espuma personalizado, com a unidade GPS de alta precisão montada na parte superior e o sonar na parte inferior. Isso funcionou incrivelmente bem, não apenas permitindo levantamentos de batimetria que seriam difíceis e perigosos de outra forma, mas também tornando todo o processo muito mais rápido e eficiente.” (Fonte).

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Desafios e aprendizados

O projeto Canoa de Tolda destacou a força dos espaços de discussão entre as comunidades. Canoa chegou ao HOT por meio de um webinar OpenMap Development Tanzania (OMDTZ), com o qual entendeu que seu contexto no Brasil tinha muitas semelhanças com o contexto apresentado na Tanzânia, e que as metodologias e técnicas de baixo custo adotadas poderiam ser utilizadas pela Canoa. Observa-se, assim, a importância de fortalecer tais espaços por meio de eventos e materiais de comunicação.

O processo de monitoramento descrito demonstrou a importância da geração de dados para as comunidades, pois isso resulta em informações consolidadas que impactam positivamente na dinâmica econômica da área (caso identificado na comunidade da Ilha do Ferro, que se dedica ao turismo e artesanato). Os dados produzidos com o apoio do HOT permitirão que Canoa de Tolda e a comunidade local em geral sejam independentes do acesso a informações precisas e reais sobre o volume do rio, já que atualmente tais dados são de propriedade de empresas privadas e órgãos estatais. Essa dinâmica permitirá que eles lutem por planos de mitigação de riscos de enchentes, além de outras políticas públicas relacionadas ao tema, como planejamento urbano, acesso à saúde etc.

As comunidades estão interessadas nestes tipos de questões, por isso existe um cenário favorável para o seu desenvolvimento. Na Ilha do Ferro, há um grande interesse em mais atividades de mapeamento aberto e comunitário. A maior parte do território não está adequadamente representada em mapas, o que impacta diretamente na falta de acesso da população aos serviços públicos básicos, além de sua atividade econômica. No entanto, a capacitação das comunidades em ferramentas e métodos de mapeamento deve levar em conta a linguagem, que deve estar de acordo com os níveis de alfabetização das comunidades, sendo o desafio disponibilizar a linguagem técnica para todos.

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Entre os riscos identificados no projeto estão: a estação chuvosa pode limitar o desenvolvimento de atividades e/ou navegação no leito do rio. Foi identificada a necessidade de ter materiais de primeiros socorros nas comunidades, minimizando os riscos nos transladois para o desenvolvimento das atividades; ter telefone via satélite para garantir comunicação permanente; e ter celulares com o sistema Android mais recente para compatibilidade com aplicativos e softwares técnicos.

Outro objetivo é que a experiência beneficie mais comunidades da região. Os gerentes de projeto locais apresentarão a abordagem aplicada e os resultados obtidos em vários espaços, o que certamente será de interesse para a comunidade de mapeamento aberto e drones.

As expressões de todos os participantes no final da formação são um testemunho de satisfação com a experiência, os seus resultados e as perspetivas de futuro, como expressa Marina Aragão, gestora do projetos, quando afirma que “ainda é um longo caminho ao qual apenas demos início. Do o ponto de vista do mapeio aberto e participativo, entendemos a necessidade de fomentar o engajamento das comunidades nesse processo. É muito importante pensar em projetos de educação de longo prazo, principalmente voltados à juventude, que sirvam de ecossistema para transformação social e inclusão tecnológica”. “O apoio do HOT, com a transferência de ferramentas e conhecimento técnico, certamente abrirá caminho para discussões mais assertivas sobre a realidade das populações que vivem e dependem do Rio São Francisco, além de ter demonstrado o potencial local para produção de tecnologias inovadoras.” Marina conclui. (Fonte).